GRAVIDEZ E ANEMIA FALCIFORME

 

A gravidez para uma paciente com AF leva a um aumento da morbidade e mortalidade materna, assim como para o feto, porém os riscos não são grandes o suficiente para se proibir as gestações desejadas.

A pre-eclampsia ocorre cinco vezes mais freqüentemente nas mulheres com AF do que no controle normal. O mecanismo ainda não é bem entendido e fatores etiológicos múltiplos como excesso de massa placentária, isquemia placentária, aumento das prostaglandinas e lesão endotelial tem sido responsabilizados. Foi feito uma pesquisa em pacientes com AF no Rio de Janeiro (gallo da Rocha, em publicação) em que trinta e três mulheres com AF que já tinham engravidado foram questionadas durante o ano de 1994 e foi registrado a evolução durante estes períodos.

Das 33 pacientes, 26 (79%) tiveram pelo menos um parto normal; dessas uma teve três partos normais ; quatro dois partos normais e uma teve quatro partos normais.

Das 33 pacientes, 9 (28%) tiveram perdas fetais: natimorto, abortamento expontâneo ou morte logo após o nascimento, sendo que uma teve quatro perdas fetais e outra, duas.

Das 33 pacientes, 9(28%) tiveram eclampsia, sendo que duas tiveram em duas gestações. Uma paciente faleceu no período de gravidez meses após a entrevista, por eclampsia.

A mortalidade das mulheres grávidas com AF vem caindo com o passar dos anos. Em 1956, descreveu-se 22% de mortalidade materna (53). Porém Pritchard em 1973 mostrou uma queda progressiva da mortalidade materna de 33% para 11% até 0% (54).

Powars em 1986 relatou queda de 5,6 % a 1,8%, comparando os períodos antes de 1976 (55).

No nosso trabalho,1 de 33 (3%) pacientes grávidas foram ao óbito em decorrência de eclampsia. A toxemia da gravidez é freqüente em pacientes com AF.

As perdas fetais por abortamento; natimortos ou morte neonatal é maior nas mulheres com AF.

Milner em 1980(58) relatou 8,1% de mortalidade fetal. Nos Estados Unidos. Já Koshy descreveu que a mortalidade e morbidade nos Estados Unidos era em torno de 1,8% (59)

Na nossa casuística 13 das 33 pacientes tiveram óbitos fetais (39%), sendo que uma teve em duas gestações e outra em quatro.

Na Jamaica, Serjeant descreveu 17,5% de mortalidade fetal, maior que nos Estados Unidos, porém menor que a nossa (5).

As pacientes com AF grávidas devem ser seguidas de 15 em 15 dias pelo hematologista e pelo médico obstetra.

Os eventos relacionados com AF que pode ocorrer durante a gravidez são: crises dolorosas, crises convulsivas episódios trombóticos, hemorragia, hipoxia, uso excessivo de meperidina e/ou complicações da toxemia e hepatopatia.

Nesse trabalho conclui-se que na casuística brasileira a mortalidade materna é comparável aos países desenvolvidos.

A mortalidade fetal (abortamento, natimortos) se mostrou maior na nossa casuística quando comparada com os dados da literatura médica.